sábado, 28 de fevereiro de 2009

O Chicote Virtual

Ironia das ironias
Hipocrisia das hipocrisias
Parece mesmo bruxaria
Para o mais feroz agnóstico

Na ilusão de um sonho
Pequeno e sem ambição
Morre o homem livre de cansaço
Sem ninguém sentir embaraço

Apanha hoje num dia mais cana
Um trabalhador a jornal
Que um escravo a chicote
Quando o grande Brasil
Prestava contas ao pequeno Portugal

Morrem muitos aos cinquenta
Altura em que o coração não aguenta
Morrem de cansaço!

Dezasseis toneladas por dia
Rendem alguma maquia
Mas é demais para um dia!!



segue a noticia

27 DE FEVEREIRO DE 2006

MUNDO DO TRABALHO


Cortadores de cana, fotografia de Vicente Sampaio

Quem está matando os cortadores de cana? (2)


Na primeira parte deste artigo,vimos como o cortador de cana em São Paulo trabalha, e como morre de trabalhar. Examinemos agora como e por que a produtividade do seu trabalho, usando o mesmo podão, quadruplicou em duas gerações.
A remuneração deste trabalhador é por quantidade de cana cortada no dia, portanto um pagamento por produção. Constitui forma de salário já denunciada por Adam Smith no século 18 e por Karl Marx no século 19, pois o trabalhador tem o seu ganho atrelado à força de trabalho despendida. E tanto Adam Smith quanto Marx denunciavam este tipo de pagamento, chamando-o de perverso e desumano, ao examinar situações em que o trabalhador controlava o seu processo de trabalho e tinha, ao final do dia, pleno conhecimento do valor que tinham ganho. No corte de cana é pior: os trabalhador sabe quantos metros de cana cortou, mas não o seu valor, que depende do peso da cana cortada.

O sistema que provocou a greve de Leme

As usinas pesam a cana e atribuem um valor ao metro, através da relação entre peso da cana, valor da cana e metros que foram cortados. Tudo isto é feito nas usinas, onde ficam as balanças, longe do controle do trabalhador. Portanto, entre os tecelões dos séculos 18 e 19 e os canavieiros dos séculos 20 e 21, a enorme distância é o não controle do trabalhador sobre o seu salário.

O trabalhador termina sua jornada sem saber o quanto ganhou. Mesmo cortando muitos metros, pode ter um ganho pequeno, a depender da conversão feita pelo departamento técnico da usina.

Este sistema alimenta incontáveis desavenças entre trabalhadores e usineiros. Em 1986 elas levaram à greve de Leme, que se alastrou para outras cidades e regiões canavieiras de São Paulo. Dois anos antes, a greve de Guariba, pioneira de uma onda grevista dos assalariados rurais de São Paulo, conseguiu barrar a tentativa