quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Encarnações

Encarnação reflectida

Analisar um poema
pode ser psiquiatria à distância,
diz o que lês e tomam conhecimento do que sabes.
Fazendo um poema revelas sentimentos,
reflexões e pensamentos,
que deixam de ser teus
e são lançados aos ventos

È possível mentir nos sentimentos?
Sentir uma mentira!
Odiar quem não se conhece?
Amar uma desconhecida?
Encarnar numa alma perdida?

Vender um poema de amor,
a um estupor pouco inspirado,
para com ele cantar um fado.
Numa serenata de engodo,
cuja verdade não é amor em fogo
mas um capricho serôdio.

Louvar um ditador,
que causa sofrimento e dor,
mentindo com a vaidade
de quem faz a verdade.

Elogiar dinheiro e poder
para não comprometer
os pequenos prazeres,
de uma vida hedionda.
Que nos arrasta como uma onda.

È esta a capacidade do bom político.
Do mais comum dos aldrabões
e do mais simples poeta.
Encarnar na alma do semelhante.
Pensar e sentir na sua pele,
obtendo um retrato fiel
Da sua possível reacção
ou mera meditação.

Aldrabão, poeta e político,
são personagens que criam
o seu próprio circo.
Constroem o mundo que imaginam.
Encarnam a alma do público.
Para de seguida num encantamento,
introduzir a sua alma no corpo desse mesmo público.
Será assertividade ou jeito para actor?
Actor não porque neste caso só conta o aspecto exterior
Mas o teatro terá que bem desempenhado
Ao mesmo tempo que imaginado…



Pecúlio final


Criança com esperança,
de um futuro de bonança.
brinca criança.
Com a inocência da infância,
não percas a felicidade,
pois quando a perderes
Serás adulto.
Com saudade dos tempos de criança.

Em que brincavas e acreditavas,
que em todo o mal há esperança
e em todo adulto ainda mora a inocência
de uma criança.

A criança sucumbiu
abafada pelo que a vida proibiu,
mas a criança vai voltar
quando a hora da morte chegar
E só vai recordar. Que bom!
Ter tido tempo para brincar.



Eu macaco

Burro que caminha pela serra acima,
dá-me a tua alma, estou farto da minha.
És burro! Serás inteligente?
É indiferente, tens alma
E muita! Muita calma!

Estou farto de ser macaco,
embora me chamem primata
sou penas o que mata
Mata o tempo matando
tudo que anda na mata.

Mata sem necessidade,
aproveita todas.
Manhas e artimanhas,
para fazer todas as coisas
que há natureza são estranhas


Touro de cobrição (1)

Grande curtição
encarnei num toiro
estou sempre com erecção
com toda a vaca estoiro.

Grande vida na lezíria,
mas de repente!
Um macaco faz-me frente.
Surgem mais de repente.
Uns por trás outros pela frente
não adianta ser valente.

Estou aprisionado
numa gaiola encarcerado,
eu que não cometi nenhum pecado
e para piorar o fado.
Há macacos por todo o lado.

Macacos do carvalho
mexem na ferramenta
espremem os tomates
malditos macacos.

punhetas de macacos
estou feito em farrapos.
Cheguem perto dos cornos
que vós furo os olhos.

Mais vale morrer
que servir macacos.
Pois sentem prazer
Em fazer sofrer
E ainda por cima gostam de mexer.